Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

Soneto de José Basílio da Gama


Edição de referência:

Obras Poéticas de Basílio da Gama, org. de Ivan Teixeira.São Paulo: EDUSP, 1996.

SONETO

A CERTO INDIVÍDUO

QUE SENDO PROTEGIDO PELO MARQUÊS DE POMBAL

INCORRERA DEPOIS EM SEU DESAGRADO'

Achou Fábio um torrão de barro loiro,

Que amassou devagar muito a seu jeito,

E dele fez um homem tão perfeito,

Que a todos parecia ser de oiro.

Ninguém se lhe atrevia em seu desdoiro,

Mas o tempo, que a nada tem respeito,

Na grande perfeição fez tanto efeito,

Que ele mesmo lhe foi funesto agoiro.

Olhou Fábio, que é justo, e então pondera

Que a vaidade deste homem, a que ele ama,

Contra o mesmo fator logo se altera.

Levanta o braço, e contra o vício exclama,

Derriba a mesma estátua que fizera,

E do estrago somente dura a fama.

Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística