LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Ode ao Rei D. José I, de Basílio da Gama
Edição de referência:
Obras Poéticas de Basílio da Gama, São Paulo: Edusp, 1996.
ODE
AO REI D. JOSÉ I
NO DIA 7 DE SETEMBRO DE 1765,
DÉCIMO QUINTO ANIVERSÁRIO
DE SUA ACLAMAÇÃO
I
Os resplendores novos
A filha do Hipérion à terra envia,
E o sol brilhando aos portugueses povos
Traz no adornado coche o claro dia,
Em que o lustro terceiro
Se completa, eis quando enchendo os ares
As vozes populares
Clamar-se ouviram pelo Reino inteiro:
Real, real, por D. José Primeiro.
II
Ouviu o nome Augusto
O rico Tejo, o fértil Doiro undoso,
O Minho fresco, o Guadiana adusto,
E o torcido Mondego vagaroso.
A notícia levaram
Ao antigo Oceano; e enquanto ouvia,
E os fados presidia,
Os indômitos ventos se calaram,
E as Ninfas pelas grutas o escutaram.
III
Sobe, Príncipe digno,
Sobe ao Trono paterno, e dele ampara
A tua Lusitânia; o Céu benigno
Em ti o seu socorro lhe prepara;
Se ao som do bravo Noto
Com encrespadas ondas o mar geme,
Não pode o grande leme
Regido ser por qualquer nauta indoto,
Mas só por sábio, e próvido piloto.
IV
Os pálidos aspectos
Viram tremer a terra, e do alto cume,
Prostrados pelo chão os nobres tetos
Da Cidade abrasada em vivo lume,
Estende a poderosa
Mão à aflita Lisboa o Rei clemente,
E a face decadente
Levantará do estrago mais formosa,
Qual noutro tempo a Tebas fabulosa.
V
Vive da pátria tua,
Amado pai, que os Deuses te defendem,
Por ti o reino indigno se destrua
Dos negros monstros que a discórdia acendem;
A ignorância por terra
Se desterre, e se expulse como escrava
Do Sólio que ocupava.
Tu restaura magnífico, e conserva
Os sagrados altares de Minerva.
VI
Por ti em várias partes
Se costuma a fortuna a ter propícia
O mercador pelas lucrosas artes,
Que Mercúrio ensinou aos de Fenícia:
Com a flórida cabeça
A ti do alto Céu Astréia torne,
Sempre o teu lado adorne,
E claras leis, co'as quais o Reino cresça,
No cândido regaço te ofereça.
VII
Farás cair por terra
Da mão de Marte a espada que as memórias
Renovar quererá da dura guerra
Nos peitos esquecidos das vitórias:
Tu resiste severo
Ao Espanhol terrível que se avança,
Nem sofras sem vingança
Que o pé ferrado do cavalo Ibero
Trilhe a seara ao lavrador sincero.
VIII
Não mais c'oa mão no rosto,
Poesia, estarás triste, e abatida,
Com o solto cabelo descomposto,
Quebrado o loiro, e a lira enrouquecida:
Olha como contentes
As Tágides mil aras te levantam,
E docemente cantam
Da Arcádia os brandos versos inocentes,
Dando-lhe assunto ações tão excelentes.
IX
E vós, Ninfas do Doiro,
Virá tempo em que neste alegre dia
Também as crespas longas tranças d'oiro
Orneis da rama que o Parnaso cria:
Mostrareis com espanto
Que o Tejo não é só às Musas grato,
E, num plausível ato,
Canções compondo dignas d'Herói tanto,
Começará a ouvir-se o vosso canto.
Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística