LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
“O cântico da escravidão”, de Múcio Teixeira
Edição de Referência:
NUNES, JOAQUIM. Corja opulenta. Rio de Janeiro:
Tipografia Politécnica de Morais e Filhos, 1887, P. 67.
O cântico da escravidão[1]
Funesta escravidão!... Terrível sorte
A dessa triste raça perseguida,
Que é arrojada aos páramos da morte
Pelos tufões mais ríspidos da vida!...
E dizer que inda existem criaturas
Que escravizam seus próprios semelhantes:
E lhes infligem bárbaras torturas,
Matando-as em suplícios lacerantes!
O escravo é na pátria um forasteiro,
Curvado sempre ao jugo de opressores;
Arrastando os grilhões do cativeiro,
Leva n'alma só lagrimas e dores!...
Leva n'alma só lagrimas de sangue,
Leva as carnes de látegos feridas,
Até que um dia cai, exausto, exangue,
Como as feras que morrem esquecidas!...
O cativo não acha um peito amigo,
Risos de irmã, nem beijos de consorte!
E ou tem de errar nos ermos, sem abrigo,
Ou de rastros, no eito, espera a morte!...
A escrava ... nem lhe é dado ser esposa!
E se é mãe, nas senzalas, às risadas,
Arrancam-lhe o seu filho!
E há quem ousa violentar-lhe as filhas... - a pancadas!...
E dizer que inda existem criaturas,
Que escravizam seus próprios semelhantes:
E lhes infligem bárbaras torturas,
Matando-as em suplícios lacerantes...
[1] Na página 67 do drama Corja opulenta (de Joaquim Nunes, pela Tipografia Politécnica de Morais e Filhos, Rio de Janeiro, 1887), aparece a nota: “Poesia de Múcio Teixeira, expressamente escrita para este drama, e música do inspirado maestro brasileiro Dr. Abdon Milanez.”