Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

Sonetos de Bernardo Vieira Ravasco e de Antônio Vieira


Edição de referência:

Poesias de Gregório de Matos, organizada por José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: UERJ / DIGRAF, 1997.

 

ÍNDICE

Soneto de Bernardo Vieira Ravasco

Soneto do Padre Antônio Vieira

 

Soneto

De Bernardo Vieira Ravasco Secretário do Estado do Brasil.

A seu irmão o Padre Antônio Vieira

Consoantes forçadas

Se queres ver do Mundo um novo Mapa,

Oitenta anos, atenta desta cepa

Por onde em ramos a cobiça trepa

E emaranhada faz do tronco lapa.

Morde com dentes, que não tem cá papa,

Com a língua fere, com a mão decepa,

Soldado oposto, livre de carepa

Que de tarde e manhã raivoso rapa.

Os olhos de água, as faces de tulipa

E cada um dos pés de pau garlopa,

A boca grande e o corpo de chalupa,

Obofe muito, e muito pouca tripa,

E a minha Musa, por que a tudo topa,

É apa, epa, ipa, opa, upa.

 

Soneto

Do Padre Antônio Vieira em resposta

ao antecedente de seu irmão feitos

mesmos consoantes.

Sobe Bernardo da Eternidade ao Mapa,

Deixa do velho Adão a mortal cepa,

Pelo Lenho da Cruz ao Empírio trepa,

Começando em Belém na pobre Lapa.

Mais que Rei pode ser, e mais que Papa,

Quem de seu coração vícios decepa,

Que a grenha de Sansão, tudo é carepa

E a guadanha da morte tudo rapa!

A flor da vida é cor de tulipa,

Também dos secos anos é garlopa

Que corta, como ao mar, corta a chalupa.

Não há mister que o fosso corte a tripa,

Se na parte vital já tudo topa,

É apa, epa, ipa, opa, upa.